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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

TRAVESSIA DOS ANDES (Parte 1)








Oi Galera, estou de volta. Vou fazer um relato de como foi a viagem, mas já vou adiantando que será muito difícil expressar em palavras o que pude vivenciar no local.

A história começou na quinta feira 28/10/10, saímos de Blumenau eu o De Paula e o Adélcio, fomos para Curitiba, onde pegaríamos o vôo as 06:30 do dia 29 rumo a Santiago.
Noite mal dormida, acordo as 04:15 e logo estamos no aeroporto.
Já de saída levo a mordida de R$ 235,00 de excesso de bagagem. É o preço para levar a bicicleta.

Não sei o porquê, mas nosso itinerário foi muito equivocado, fomos primeiro a Santiago, passamos horas no aeroporto para somente depois seguir para Mendoza, Argentina, onde começaria a aventura.
Já era inicio da noite quando chegamos a Mendoza, apenas deixamos as coisas no hotel e saímos para comer um belo bife de Chorizo.
Esta muito barato para nós brasileiros na Argentina. Chegou a nossa vez.
Voltamos para o hotel caminhando, interessante o sistema de captação de água da cidade, como chove muito pouco eles desenvolveram um sistema que aproveita a água do degelo, então entre as calçadas e a estrada existe uma vala aberta, que recolhe essa água em reservatórios, para os desavisados um perigo, tem que andar com atenção, sob risco que enfiar o pé no buraco.
Ao voltar para o hotel enfrentei a primeira encrenca.
Não consigo montar minha bike. A corrente literalmente deu um nó. Perco horas tentando arrumar, sem sucesso. Acabo indo dormir pelas 02:00 da manhã, inconformado.

As 06:00 acordo e tento desatar novamente, nada. Parece um cubo mágico, nó desgraçado. Parece que a corrente vai estourar a qualquer momento.
O problema só é resolvido quando nosso guia, que também é mecânico de bike chega e com a ajuda do Clarkson desata o maldito nó. Alivio.

Por volta das 08:00 saímos para nosso primeiro passeio de bike, na verdade um city tour por Mendoza, visitamos 2 vinícolas, onde degustamos os famosos vinhos da região, nosso almoço foi um evento a parte, um restaurante, ou melhor, uma espécie de adega, em meio a parreirais de uva, lugar simples, bucólico, mas muito charmoso, a mesa posta era coisa de cinema.
Frios, queijos, saladas de todos os tipos, realmente algo de encher os olhos e dar água no boca.
Depois de um almoço de rei, voltamos a pedalar, visitamos outra vinícola, mais vinho. Não deu outra, todo mundo meio baleado e acabamos voltando de ônibus para o hotel.

Não contente, inventei de correr, fiz 6 km pelas ruas de Mendoza, na verdade, corri o tempo todo em uma área que fica entre as rodovias que cortam a cidade, muitas árvores, um ou outro correndo por ali, muitos cachorros soltos.
Logo no inicio, senti uma tremenda dor de cabeça, que me acompanhou o treino todo.

Já nesse primeiro dia comecei a sentir o clima muito seco da região, tosse, peito congestionado.
Fui para cama as 23:30, no outro dia teríamos um longo de bike, primeiro dia de subidas fortes, destino Uspallata, uma vila nos Andes.

Dia 31/10/10 – Domingo

Fizemos um trecho de ônibus e começamos a pedalar por volta das 08:00, céu azul, montanhas moldurando a paisagem, um visual surreal.
Retas longas, piso de concreto, vegetação rasteira, clima árido, frio. Que lugar é esse?

Logo o grupo se dividiu em dois, fiquei com a turma da frente. Nossa grupo era formado por 10 pessoas, eu o mais novo, 38 anos, alguns visivelmente fora de forma, mas todos empenhados em fazer o trajeto.
Afinal de contas estávamos ali a passeio e não para competir. As vezes tinha que me lembrar disso...

Assim que a pavimentação acabou, começou a subir, 39 km de subidas.
Eu o De Paula e o Edson, desgarramos na frente, não subimos forte, mas mantínhamos um ritmo constante. O pessoal ficou muito para trás.
Pelo caminho cruzamos com uma Raposa dos Andes, vimos alguns Guanacos, e muitas, muitas pedras.
Paramos inúmeras vezes para fotografar a paisagem, inacreditável.
A estrada serpenteia a montanha, a cada parada podíamos ver nossos companheiros pedalando alguns “degraus” abaixo.

Depois de muito pedalar chegamos a um platô, no topo da montanha, ali eu já me sentia meio quebrado e o pedal foi no sofrimento mesmo, nariz e garganta super secos, minha água acabou, o piso era composto de pedras e areião, não rendia.
O altímetro marcava 3.000 metros. Nessa altitude já sentimos os efeitos da baixa oxigenação, quando pedalava num ritmo constante, não sentia nada, porém qualquer sprint ou pedalada mais forte era recompensada com uma falta de ar.
Era necessário uns minutos de recuperação, senão tonteia mesmo.

Depois de uma curva, vi uma pequena capela com uma cruz, era o cume.
A vista que se abria do outro lado era de alta montanha, cumes nevados, ao fundo o Monte Aconcagua com seus quase 7.000 metros. Me emocionei...

Cheguei a esse ponto suando muito. Mas ali exposto ao vento gelado comecei a congelar imediatamente. A sensação térmica era de zero grau. Fiz algumas fotos e fiquei acocorado ao lado da Capela, tentando em vão me proteger do vento. Não tinha para onde correr!

Ficamos preocupados, pois o carro de apoio devia estar a pelo menos uma hora da gente, recolhendo os atrasados, havia ainda a possibilidade de termos pego um caminho diferente do combinado, pois viemos muito na frente.
Que frio. Nunca senti tanto frio.

Após um 30 minutos, graças a Deus o apoio apareceu. Coloquei todas as roupas que tinha, e me enfiei dentro do ônibus.
Descemos um pouco até uma estação mineradora onde seria o almoço, um café quente acabou com a tremedeira. Almoço de pães, bolachas, queijos e frutas. Pela janela podia ver o vento forte açoitando a paisagem.
Meu nariz começa a sangrar. - Que lugar seco.

O De Paula tenta me convencer a pedalar até Uspallata, agora é só descida, quilômetros de descida. Porém eu simplesmente não consigo me imaginar pedalando naquele frio, naquele vento.
Faço essa ultima perna de ônibus com o pessoal, somente o De Paula desce de bike. Depois, prá variar me arrependi. Devia ter descido com ele. Morrer de frio eu não ia, e conforme descíamos a mudança na temperatura era nítida.

Uspallata não passa de um vilarejo, que fica a 1.850 metros de altitude. Na verdade a vila se parece com um oasis meio ao deserto, cercada de Álamos, sua principal atividade é a agricultura, irrigada com água de degelo das montanhas.

Ficamos em um pequeno hotel, chamado Los Condores. Não tem absolutamente nada para fazer ali. Depois de instalados, jantamos em um restaurante local, truta ao queijo roquefort, cervejas argentinas, uma delicia.

Nesta noite dividi o quarto com o Clarkson, o incrível homem que ronca. Parecia uma avalanche, um acidente de trem.
Isso para não falar na barulheira em frente ao hotel, parece que boa parte da população local passa a noite de domingo em claro, conversando e bebendo até a madrugada.
Passei boa parte da noite rolando na cama. Nada ameniza a roncadeira, tentei travesseiro, enchi o ouvido com papel, nada.

Quando amanheceu a primeira coisa que fiz foi encontrar tampões auriculares, não podia perder outra noite de sono.

Como acordei bem cedo, aproveitei para fazer um reconhecimento do local sozinho e em menos de meia hora já tinha pedalado por todo o vilarejo, o amanhecer é deslumbrante, seu azul, muito azul, vista para montanhas nevadas, frio.

Voltei para o café o hotel e com a turma saímos para um pedal rumo ao Cerro Sete Colores, um lugar meio as montanhas onde a paisagem fica multicolorida, subimos a 2.500 metros neste dia. Um falso plano, é fácil se enganar na região, só se dava conta de como subia quando olhávamos o altímetro, a volta foi muito legal, quilômetros de descida sem pedalar uma vez se quer.

Passeios pela vila, almoçamos ao ar livre, muito calor meio dia, um sol abrasador, extremos.
Amanhã pela manha sairemos rumo Ponte Del Inca.

2 comentários:

  1. Cara,pelas fotos da para ter noção. Outra coisa, essa foto tua ali do rosto parece um escalador do tour!!
    abraço

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  2. Marcelo,,,, poxa lendo seu relato da uma vontade imensa de conhecer tudo isso de perto e com os amigos junto,,,, imagine nos todos juntos podendo fazer um pedal desses,,,, quanta loucuras nao daria. Parabens pela aventura agora es um bike internacional,,,, fico feliz que tenha ocorrido tudo dentro do previsto,,,,te esperamos nos treinos amigo.
    forte
    vieira

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