.

.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Travessia dos Andes (2a. Parte)



Amanhece terça feira, mais um dia de frio e céu de azul intenso. Café rápido no hotel e saímos pedalando, destino: Ponde Del Inca, que fica a uma distância aproximada de 72 km.
A paisagem é composta de retas longas, algum sobe e desce, asfalto perfeito, pouco trânsito de veículos, pedalamos em um vale, entre montanhas de tirar o fôlego.
A estrada segue o leito do rio Mendoza, que nesta época do ano apresenta um nível bem baixo, mas observando as margens escarpadas dá prá ter uma idéia do volume de água que passa por ali durante o degelo.



Neste dia pedalei com todo mundo, por vezes no final do pelotão, por vezes à frente. Muitas vezes sozinho.
O lugar é impressionante.
É muito fácil se perder em pensamentos num lugar desses, parece um mundo surreal, só estando lá para entender o que digo, vi alguns com lágrimas nos olhos, é algo muito estranho, muito pessoal.
Acho que deve ser parecido com um encontro com Deus. O lugar é tão imenso e tão bonito que você torce para nunca chegar ao destino. Você não quer que aquilo acabe, foi o dia perfeito.



Dia perfeito para uns, mal dia para outros. O Adélcio que já não vinha se sentindo muito bem, pifou de vez neste pedal, for recolhido pelo apoio e precisou de atendimento médico. (Foi atendido num posto de Exército Argentino). Ficou um dia de molho e depois tudo bem com ele.



Paramos para almoçar na entrada do Parque Aconcagua, não foi bem um almoço apenas um reabastecimento de frutas, barrinhas, bolachas e isotônico.



Muitas fotos depois, continuamos a pedalar, porém logo notamos uma mudança no clima. Começou a ventar.
Meu conceito de “vento contra” mudou completamente depois desse dia. Para progredir pedalando tinha que se agarrar ao guidão.
O grupo se despedaçou imediatamente, eu o De Paula e o Edson, conseguimos ficar juntos e revezando, fazendo muita força conseguimos chegar ao destino. Foi sofrido.



Ponte Del Inca, é um pequeno povoado, se é que se pode chamar de povoado. Trata-se de lugarejo a quase 3.000 metros de altitude, com um hotel, uma base do Exército Argentino, umas barracas de nativos que vivem de vender suvenir e algumas poucas casas, que presumo pertencer aos militares.
Esse povoado serve como base de apoio para que vai escalar o Monte Aconcagua, pelo que imagino deve ser bem movimentado na temporada de escalada.
Descrever o hotel como pitoresco seria pouco. Como é a única opção no local, não mostram muita preocupação com os hospedes, na verdade não estão nem ai.
O serviço é terrível em todos os aspectos, as camas são horríveis, o banheiro caindo aos pedaços.
A comida meia boca, mas deu para o gasto.
Não sou chato neste aspecto, afinal de contas estávamos num lugar bem remoto, mas o mínimo que se espera de um hotel é uma cama e um chuveiro descente.

Bom, voltando ao pedal, assim que chegamos, fizemos uma mega sessão de fotos e ficamos aguardando os nossos companheiros que foram chegando um a um, até o último, que foi muito comemorado.
Apesar do vento forte, do frio, todos completaram o trajeto pedalando, cada um no seu tempo, dentro de suas possibilidades, lutando contra seu limite.
Cansados, alguns nitidamente emocionados, foi muito bonito de ver. Parabéns!



Estamos a 3.000 metros, ainda não ambientados, todo mundo indo para o hotel, pensando num banho quente e no almoço.
Eu, num delírio, invento que antes de almoçar ia correr.
Perguntei ao guia se faria algum mal correr naquela altitude sem estar ambientado, ao que ele respondeu que poderia sentir um desconforto, dores de cabeça, mas que isso me faria ambientar mais rapidamente.
Troquei a sapatinha pelo tênis e comecei a correr morro acima. Pensei em correr até poder avistar o Monte Aconcagua, que ficava a uns 3 km dali.
O vento castigava, a altitude também, segui com passadas curtas, respirando fundo e fui em frente, após uns 20 minutos avisto a montanha. Grandiosa, gigante, emocionante.
Fiquei rindo sozinho no meio da estrada, só eu. Demais!
Não dá prá descrever o que a gente sente numa hora dessas. Só vivendo.
Como uma criança, fiquei fazendo umas fotos de mim mesmo com a montanha ao fundo, cantando, rindo sozinho.
As pessoas nos poucos carros que passavam no local devem ter pensado que tratava-se de um doido acometido do mal da montanha.
No retorno, notei que estava vestindo apenas uma segunda pele e a camisa de ciclismo, fazia muito frio, mas eu estava tão empolgado que nem senti direito.



Corri 6,5 km, não senti nenhum desconforto, quando cheguei ao hotel o pessoal estava terminando o almoço, não sentia fome nenhuma. Tomei uma água e comi apenas um pãozinho.

Após o merecido banho, descansei um pouco.
A janta foi peito frango com algo que deveria ser batatas fritas, na verdade acho que era azeite com batatas. Óleo, óleo, óleo.


(Ponte Del Inca - Monumento Natural)


(Olha só que fim de mundo)

Para fechar o dia eu e o De Paula saímos para uma caminhada noturna nas cercanias do hotel.
Frio. Muito frio, vento. Eu queria ver a zênite, a gente se acostumou com o céu da cidade, onde sempre existe alguma iluminação perto que atrapalha a observação das estrelas.
Lá é a escuridão total. Não encontro palavras para descrever o céu estrelado que vimos.
Valeu a pena quase congelar.

De volta ao hotel, passo uma péssima noite.
O meu companheiro de quarto roncou como uma betoneira, como peguei frio demais, meu peito esta completamente congestionado, não respiro direito, meu nariz fica sangrando, o colchão da cama parece um quebra molas de cabeça prá baixo.
Perfeito.
Amanhã cedo faremos uma caminhada pelo Monte Aconcagua.
Dorme Marcelo...

5 comentários:

  1. Ferreira, você é doente :-) ! Correr lá em puente del inca, subindo... Isso mostra uma aclimatação perfeita ! Já pode se comprar o permisso para escalar o Aconcágua !

    Qdo passei lá a última vez foi de carro, corri até quase o acampamento de confluência e voltei moribundo. Lugar sensacional.

    Que houve com a outra metade do garfo da tua MTB ;-) ?!

    Abraço,
    Rafael

    ResponderExcluir
  2. Ferreira:

    Cara, vendo as fotos e lendo seu relato, confesso que fiquei com uma pontinha de inveja da sua aventura ...

    Que pique, pedalar e correr nessas condições (frio e vento) não é pra qualquer um... Tu tá muito bem condicionado em meu irmâo ??? Parabéns !!!

    Que viagem maravilhosa !!! E na bagagem de volta muita história boa pra contar e uma baita experiência ...

    Nâo vejo a hora de ler a 3ª parte...

    Abs

    Fábio
    http://42afrente.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  3. Que aventura, hem...O lugar e totalmente fora da mossa realidade, muito legal...
    Estou vendo que esta aproveitando mesmo esta viagem, hem, é isso aí, curte bastante este momento, deve estar sendo demais...

    Abraço e tudo de bom aí, continue com os post que esta sendo muito interessante...lindas as fotos!!!

    Bjs.

    ResponderExcluir
  4. Carambaaaa Marcelão!!!

    Primeiramente bem vindo a Blumenau!!!

    Pow que legal essa viagem, só hoje que li os dois textos, e senti vontade de abandonar tudo e partir pra uma viagem dessas...realmente eu acredito que só estando lá para sentir essa maravilha.
    As fotos tiradas também são humilhantes, muito boas mesmo.
    Pelo que to lendo vc deve ter curtido muito mesmo, apesar dos contratempos, o que é normal em qualquer viagem, acredito que foi espetacular!

    E daqui a pouco to sentindo um livro pintando aí "As aventuras de Marcelo Ferreira", hehehe...
    continua escrevendo que além de imaginar a viagem eu me divirto com a forma que tu contas. =)

    Abração ae...

    ResponderExcluir